Ser humano nos dias de hoje é cansativo. Esperamos ser tudo, para todos, o tempo todo. É comum as pessoas me procurarem porque estão cansadas, sobrecarregadas, sem ter ideia do que fazer a respeito. Em boa parte de nossas conversas, nas sessões restaurativas que eu oriento, pergunto se elas não cogitam a possibilidade de abrir os olhos para perceber que precisam de uma pausa para não fazer nada.
Você não sente que precisa de um tempo apenas para absorver, parar de correr, ter mais silêncio? Isso pode não ser fácil e exigir mais do que nosso próprio esforço, mas eu acredito que é possível. Sinto que assim podemos lidar melhor com esse mundo tão rápido. Podemos nos dar tempo para refletir sobre novas maneiras de viver, de estar junto, de nos conectarmos. Raramente, passo os dias fazendo nada. E boa parte dos meus momentos fazendo “niks”, como diz a escritora polonesa Olga Mecking, vem graças à minha galguinha Lakshmi.
No livro Niksen – Abraçando a arte holandesa de não fazer nada, a escritora ensina como essa técnica utilizada nos Países Baixos melhorou a qualidade de vida da população. Na verdade, também aumentou a produtividade porque às vezes não fazer nada é exatamente o que você precisa para se tornar um ser humano mais produtivo, tomando melhores decisões. Esse termo holandês foi criado para expressar aquela pausa em que você não está meditando, não está respondendo nenhum e-mail, nem bisbilhotando a rede social de alguém.
Fazer nada nos Países Baixos está ligado a autocuidado e a escritora Brianna Wiest define esse termo de uma maneira que eu gosto muito, que é “construir uma vida da qual você não quer fugir”. Apesar dos tempos áridos que vivemos, tenho que uma vida da qual não quero fugir. Mas ela tem sido construída respiração a respiração. Medo a medo. Afeto a afeto. Eu compartilho isso com você no desejo de que você experimente a pausa consciente e sem culpa.
É comum perceber como seu corpo está estressado quando você se senta e faz “niks”. E aí não é possível dizer a si mesmo: agora eu quero me acalmar. Infelizmente, não funciona dessa maneira. Nossos corpos se adaptam aos níveis elevados de estresse e começam a considerar esses níveis o novo normal. E se o seu corpo se adapta, o seu cérebro se adapta. Tá aí o problema. No livro Olga Mecking explica:
“O estresse é a trilha para o Lado Sombrio. O estresse leva a preocupação. A preocupação leva a ansiedade. A ansiedade leva ao sofrimento. Um círculo vicioso.
O estresse não afeta apenas empresas e organizações, mas também afeta cada vez mais a dinâmica das famílias. Estar sempre ocupado se tornou uma sensação familiar, estamos familiarizados com isso, e todos ao nosso redor também. E como consequência criamos uma sociedade que considera a sobrecarga normal ou até desejável. Os humanos sempre escolhem o familiar ao desconhecido. Agora, escolhemos o caminho da sobrecarga para não termos que sentir o desconforto de não ter o que fazer”.
Precisamos de ajuda para aprender a ser menos ocupados. Um bom exercício para começar, é olhar nos olhos das pessoas. Você vai notar a diferença na sua respiração.
Uma das coisas mais revolucionárias que eu aprendi é fazer uma coisa de cada vez, sem pedir permissão ou oferecer explicações.
Viver assim é eletrizante.