Vanessa Aragão

Por Vanessa Aragão, pesquisadora e instrutora de meditação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Criadora do projeto Meditante Urbana
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Entenda o poder de “Sinta Raiva”

Em livro, Sua Santidade, o Dalai Lama, explica como esse sentimento pode ser um combustível de transformação

Por Vanessa Aragão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jun 2021, 14h22 - Publicado em 2 jun 2021, 12h17
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  • Nem sempre precisa ficar tudo zen. Eu gosto muito de chás e plantas. Tenho uma galguinha de 9 meses, que carrega o nome da deusa da prosperidade, Lakshmi. Moro numa vila com uma árvore enorme (que o Ailton Krenak amaria) e sempre tem muitos passarinhos por aqui. Para completar, vivo numa rede cercada por livros. E eu nunca senti tanta raiva, como sinto hoje. Em teoria, a raiva nunca é boa, mas é um fato que não podemos negá-la. Tanto que a Sua Santidade, o Dalai Lama, escreveu um livro chamado “Sinta raiva”.

    Em 109 páginas, ele nos lembra que precisamos diferenciar teoria de prática para entender como lidar com isso que eu, você e todos nós estamos sentindo. “A resposta é o seu estado de espírito. Ou seja a motivação que causa a ação. Quando agimos o ato surge de uma causa que já existe dentro de nós. Se agimos quando nossa motivação interna for o ódio por outra pessoa, então esse ódio, expresso como raiva, levará a ações destrutivas. Sentir raiva de maneira positiva significa abrir os olhos para o sofrimento do mundo, para a injustiça social.”

    Andei pensando, em quatro anos, numa conta rápida, já ouvi 5 mil horas de narrativas de quem passa pelo meu tapete. E a conclusão para mim, depois de tanta história, é: sentir raiva é muito subjetivo.
    Todos queremos ser felizes, ninguém quer sofrer. O problema é que quando corremos daquilo que temos medo, alimentamos nossa sombra interior. Eu sei que parar pode ser aterrorizante, mas é justamente na pausa que sentimos a nossa coragem e determinação. E vivemos. E podemos sentar sob a nossa árvore bodhi (aquela do Buda) e enfrentar as flechas de Mara.

    Em sânscrito, Mara significa delusão, uma espécie de ignorância onírica, sabe? Que nos envolve no desejo e no medo e obscurece nossa natureza iluminada. Os tempos andam duros para pensarmos em natureza iluminada, mas também é um fato que ela está lá: no afeto pelos seus avós, no cuidado com os amigos, no respiro da paciência com os filhos, na esperança de acreditar nas relações. No carinho de se julgar menos…O amor pode estar mais desafiador do que nunca, mas talvez jamais tenhamos tido tantos recursos para enfrentar esse desafio. Não somos máquinas que não precisam de afeto. Então, experimente olhar para o amor, mesmo no olho do furacão. Você não é o furacão.

    Se isso parece tolo para você, tudo bem, me deixe tola. Existe um poder latente em mim para que eu tenha orgulho, compaixão e bondade para me aperfeiçoar e agir.
    Existe uma espécie de compaixão irada que pode nos dar energia para existir nesse mundo. E não se engane, mesmo você não sendo “tolo”, uma hora ou outra, a pergunta sobre o que você está fazendo no mundo vai chegar para você também.

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    O budismo, que é uma das filosofias que eu estudo, fortalece a minha subjetividade individual. Pros dias que têm sangue nos olhos, eu respiro e leio mais algumas páginas de “Sinta raiva”. “Não importa quanto tenhamos experimentado o horror da violência. Se não estivermos convencidos da necessidade da paz, não significará nada simplesmente repetir que o Buda ensinou que a paz é importante. Não basta meditar em silêncio no mosteiro, precisamos enfrentar a violência no mundo externo.”

    Eu abraço as coisas, me afeto, tenho sustos internos.
    Eu sei que é amor o que eu quero.

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