10 dicas para uma degustação inesquecível
Por Marcelo Copello Quem se inicia nas artes de Baco, logo descobre que o vinho é um verdadeiro universo, repleto de novas informações. Esta complexidade ao mesmo tempo que fascina pode confundir os menos experientes, afugentando-os, e alienar os especialistas, afastando-os da verdadeira razão deste néctar, o simples joie de vivre, a alegria de viver. Vamos então, […]
Por Marcelo Copello
Quem se inicia nas artes de Baco, logo descobre que o vinho é um verdadeiro universo, repleto de novas informações. Esta complexidade ao mesmo tempo que fascina pode confundir os menos experientes, afugentando-os, e alienar os especialistas, afastando-os da verdadeira razão deste néctar, o simples joie de vivre, a alegria de viver. Vamos então, por um momento, relembrar o essencial, preceitos que, por mais que nos aventuremos no mundo deste nobre fermentado, devemos sempre trazer conosco. Com este espírito, enumero abaixo:
1-A companhia. A primeira dica é a menos ortodoxa de todas. O que tornará inesquecível sua degustação será a emoção proporcionada. O vinho é apenas um líquido e a emoção não está nele e sim em quem o degusta e no ato de compartilha-lo. A primeira escolha portanto, é quem irá compartilhar o precioso liquido com você. Esta escolha será determinante nas demais. A primeira pergunta a se fazer é: seus convivas gostam de vinho? De que tipo? Estão dispostos a experimentar novos tipos?
2-A escolha dos vinhos. Sua degustação pode ou não seguir um tema, cuja escolha é virtualmente infinita, o limite é sua imaginação. Escolher uma tema é encontrar um critério para agrupar garrafas, como: vinhos de um mesmo país, região, uvas ou produtor; provas verticais (varias safras de um mesmo vinho), provas horizontais (vários vinhos de uma mesma safra) provas as cegas (onde não se sabe que vinho está em cada taça). Os vinhos podem também ser agrupados pelo seu método ou local de elaboração (Ex: tintos sem madeira, vinhos biodinâmicos, vinhos feitos próximos ao mar ou em regiões de altitude, vinhos de um mesmo enólogo em países/regiões diferentes etc). Pode-se também brincar fora da caixa, com temas mais lúdicos como relacionar os vinhos escolhidos a filmes, músicas, personagens, fatos/datas históricas etc. Isso pode requerer pesquisa e imaginação, enriquecendo ainda mais a experiência vínica.
3-A escolha dos pratos. Combinar vinhos com alimentos é um tema tão complexo e prazeroso quanto os relacionamentos amorosos. Casar pratos e vinhos é trabalho semelhante ao dos cupidos ou das agências matrimoniais. Deve-se aprender sobre a personalidade das partes, valorizar suas afinidades e tirar proveito de seus contrastes. Busque combinações tradicionais ou crie suas próprias e se enamore delas. Importante: jamais coma o que você não gosta ou beba o que você não quer para fazer a harmonização que em teoria seria a melhor.
4- No restaurante. Caso sua degustação seja em um restaurante, deve-se pedir a carta de vinhos ao maître ou sommelier. Examina-se a lista com cuidado para a seleção do vinho ou vinhos que melhor se adaptam ao gosto pessoal dos comensais, seu poder aquisitivo e aos pratos selecionados. Pedir conselhos ao sommelier é válido. A garrafa deve ser conferida antes de ser aberta, na presença de todos. A rolha pode ser colocada à mesa, para que possa ser examinada. Uma pequena dose será servida a quem pediu o vinho, para que este seja aceito e só então o resto da mesa que será servida.
5- A temperatura do líquido. Alguém gosta de café frio ou de cerveja quente? Gelar os brancos em demasia irá mascarar seus aromas, enquanto “temperatura ambiente” para os tintos é um clichê que que raramente se aplica. Genericamente sirva os tintos a 18o C, brancos a 12o C e espumantes a 8o C.
6- A taça. É o instrumento do apreciador, uma espécie de amplificador das qualidades da bebida. Apreciar um bom rótulo num copo reto de vidro grosso é como ouvir Von Karajan regendo a Filarmônica de Berlim em um radinho de pilha. Numa descrição genérica a taça ideal é formada de base, haste e bojo, que deve ter formato ovalado, estreitando em direção a borda; deve ser totalmente transparente, de vidro fino e jamais enchida a mais que um terço de sua capacidade. Para os espumantes não me agradam os copos do tipo flute, pois nos privam dos aromas do vinho – neste caso o ideal são os do tipo tulipa.
7- Deixe o líquido respirar. Os vinhos, em sua maioria, devem ser consumidos assim que abertos. Alguns tintos de maior corpo, no entanto, se beneficiam de alguns minutos de contato com o ar antes de serem degustados. Simplesmente abrir a garrafa e deixar o líquido dentro dela não resolve, é necessário transferir o conteúdo para uma jarra ou decanter para que este aumente sua superfície de contato com o ar.
8- A seqüência. Trocar de vinho durante uma refeição é normal e até recomendável. Esta troca, entretanto, deve ser criteriosa. O ideal é que a seqüência siga um crescendo de paladar. Os brancos antes dos tintos, os leves antes dos encorpados, os medíocres antes dos grandes e os secos antes dos doces. A ordem errada pode comprometer um vinho, enquanto a correta pode valorizá-lo.
9- Garrafas abertas. É possível que sobre vinho em sua degustação, e uma vez aberta a garrafa o líquido se oxidará gradualmente até se tornar intragável, processo que pode demorar de algumas horas a vários dias. O método caseiro mais eficiente para dar uma sobrevida a uma eventual sobra, é a utilização de meias garrafas (de 375 mililitros). Ao abrir uma garrafa grande, transfira metade do conteúdo para a menor, que deve estar perfeitamente limpa. Encha-a por completo e depois arrolhe. Assim o vinho pode resistir alguns dias.
10- O prazer. Lembre que para todas as regras acima existem exceções que as confirmam e que esta, a número 10, deve prevalecer sobre as demais. Apreciar vinhos é uma arte, afinal esta é a bebida mais complexa, completa e fascinante que existe. Na hora de abrir uma boa garrafa, o verdadeiro artista deve, contudo, subordinar todos os preceitos ao motivo pelo qual elegemos esta a nossa bebida: o prazer.
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