Por Marcelo Copello
O champanhe é um vinho único. Tão único que muitos esquecem que é vinho. Champanhe é champanhe! É a bebida mais célebre do mundo, associada ao fausto e, principalmente, a comemorações. O folclore em torno do champanhe é riquíssimo. É o único vinho atribuído a um inventor, o monge beneditino Dom Pérignon (1638-1715). Ao descobrir o que teria criado, o religioso, eufórico, teria dito ao provar a bebida pela primeira vez: ‘Venham rápido! Estou bebendo estrelas!’ Essa história tem cheiro de lenda, já que o monge em questão era abstêmio.
O champanhe sempre esteve associado à realeza, principalmente às cortes francesa e russa. Depois de um reinado desastrado, Luiz XVI tomou-o para enfrentar a guilhotina na França. Em 1876, o czar Alexandre II encomendou ao produtor Roederer um champanhe especial que deveria ser engarrafado em cápsulas de cristal. A versão francesa dessa história conta que o czar achava essa bebida bela demais para ficar escondida por trás de vidro opaco e grosseiro. A versão russa do fato diz que em uma garrafa de cristal incolor não se poderia esconder uma bomba ou outro artefato explosivo. Precaução justificada. Em 1880 uma bomba viria a explodir justamente na sala de jantar de seu Palácio de Inverno.
Talvez o maior entusiasta do nobre espumante tenha sido Napoleão. O imperador francês freqüentava Épernay (cidade localizada no coração da região de champanhe) com tanta assiduidade que Jean-Rémy Moët, então dono da Moët & Chandon, construiu duas casas de hóspedes para Bonaparte e seu séquito.
No outro extremo, o champanhe chegou a ser conhecido como ‘vinho do diabo’, pois suas garrafas explodiam nas adegas com grande frequência. Tais explosões eram provocadas pela pressão de seu gás, associadas à fragilidade do vidro usado na época. Dom Pérignon estudou o fato. O monge usava adegas profundas para estocar seu vinho, para que a pressão atmosférica evitasse o estouro. Ele também costumava engarrafar seu vinho com Lua cheia pelo mesmo motivo. Todos esses cuidados não evitavam, porém, uma perda de 20% a 90% das garrafas contendo o vinho espumante. A sucessão de explosões era tão grande que se chegava a usar máscaras de ferro para percorrer a adega.
Por sua localização geográfica (nordeste do país), a região de champanhe sofreu com acampamentos e encruzilhadas de muitas guerras. O local foi ocupado várias vezes por combatentes e o nobre vinho serviu para revigorar muitos soldados nos campos de batalha. O folclore conta que, nos tempos de Napoleão, galantes oficiais da cavalaria comemoravam suas vitórias ainda nos campos de luta sem apear de seus cavalos. Por isso, quebravam os gargalos das garrafas com seus sabres. Há quem diga, também, que a prática nasceu com os hussardos do czar quando os russos derrotaram as tropas de Napoleão e ocuparam a região.
Leia no post de amanha, passo a passo, como abrir uma garrafa de espumante com uma espada.