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Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Underberg – uma dose de história e saúde

Desde a Antigüidade, bebidas feitas com ervas, raízes e folhas são tidas como milagrosas.

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6 abr 2017, 19h27
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  • Por Marcelo Copello de Berlim

    Desde a Antigüidade, bebidas feitas com ervas, raízes e folhas são tidas como milagrosas. Um extrato de ervas é também um extrato da natureza e simbolicamente traz em si toda sua força, mistérios e poderes. Muitas destas antigas bebidas curativas eram amargas, pois é sabido que substâncias amargosas estimulam a digestão. Estas poções eram fabricadas sob a forma altamente concentrada e diluídas antes da ingestão com destilados brancos, como gin, genebra, aquavit etc.

    Desta antiga linhagem descendem os “bitter”, categoria de bebidas que inclui marcas muito conhecidas como Campari. A palavra “bitter”, do inglês “amargo”, é usada na coquetelaria para designar bebidas amargosas, geralmente feitas de ervas, frutas etc. Os ingredientes são macerados em álcool neutro e atingem um teor de 20 a 45%. Existem vários tipos de bitter, prestando-se a diversas finalidades, como ingredientes de coquetéis (como Angostura, Péychaud e Underberg), aperitivo (Amer Picon, Campari), aperitivo ou digestivo (Fernet Branca, Jagermeister,  Underberg) e sobremesa (Calisay, China-Martini).

    Destas marcas, uma das mais antigas e de mais rica história é a Underberg. Em uma visita à Alemanha pude ver de perto suas impressionantes fábricas em Berlim e Rheinberg e aprender um pouco com os anais desta fascinante bebida e da família que até hoje a produz.

    Uvas aromáticas – quando o vinho é quase um perfume

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    Fundada em 1846, a Underberg é uma empresa familiar em sua 5ª geração. Tudo começou quando Hubert Underberg viajou para a Holanda para trabalhar em um banco. Lá conheceu um elixir de ervas que os taberneiros diluíam com Genebra. H. Underberg gostava muito deste digestivo amargo, mas ficava aborrecido com a diluição arbitrária e a qualidade inconstante. De volta a sua cidade natal, Rheinberg, decidiu lançar uma bebida com a força curativa das ervas mas com métodos mais modernos de produção, que garantissem a qualidade uniforme do produto. Nascia, assim, o digestivo de ervas Underberg.

    Hoje o nome Underberg faz parte da historia da Alemanha. Os Underberg são quase uma família real, reconhecida nas ruas, já parte do folclore e das tradições germânicas. O grupo (que tabém produz, importa e comercializa outras bebidas) fatura por ano cerca de 500 milhões de euros no mundo inteiro e emprega 1 mil funcionários.

    Há muitos fatos curiosos a respeito da bebida. Sua fórmula, por exemplo, é secreta. Trata-se de uma mistura de ervas aromáticas de 43 países, selecionadas e misturadas pessoalmente pela família. Emil Underberg, sua mulher Christiane e a filha Hubertine Underberg são os únicos que conhecem quais e quantas ervas são usadas e suas proporções. Dois monges também conhecem este segredo, para qualquer eventualidade.

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    Underberg é extremamente pobre em histaminas, rico em antioxidantes e em vitamina B1. Ao extrato adiciona-se álcool Kasher (44%) e água mineral fresca. Depois disso a bebida passa muitos meses maturando em barris de carvalho esloveno, antes de ser engarrafado nas embalagens típicas de 20ml com o tradicional papel cor de palha. Underberg tem efeito digestivo porque estimula os sucos gástricos e a atividades intestinal. A opção por garrafinhas de 20ml tem razões medicinais :esta seria a dose exata do bem-estar. Um estudo realizado em 2005 com 266 pacientes com  problemas estomacais e de digestão comprovou, as propriedades terapêuticas da bebida.

    Ao ser lançado em 1846 o sucesso de Underberg foi instantâneo, as tal ponto que uma das principais preocupações da empresa sempre foi em se proteger de imitações. Na sede de Rheinberg existe um museu de plágios, processos, patentes, em diversos países. Tudo está registrado, da cor “verde Underberg”, o papel palha, o logo, o nome, até o gesto da mão segurando a indefectível garrafinha.

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    Berlim é hoje o centro de engarrafamento de garrafas pequenas. Lá, pasmem, engarrafa-se nada menos que 1 milhão de garrafinhas ao dia! Vi para crer. Outra curiosidade é que a fábrica da Underberg na capital alemã, fica (e ficava) exatamente ao lado do antigo muro. A empresa foi a promeira a conseguir driblar as barreirtas políticas e burocráticas e comnercializar seus produtos na então República Democrática da Alemanha (RDA).

    A II Guerra Mundial também teve outros desdobramentos para a Underberg, trazendo o produto ao Brasil e gerando mais alguns capítulos na história peculiar da bebida. Durante o regime nazista a produção de Underberg parou. A qualidade do produto não podia ser garantida por causa das dificuldades em obter as ervas dos 43 países. Em 1927 Paul Underberg (filho do então proprietário) viajou o mundo a fim de sondar os mercados, passando pelo Brasil.  Em 1932 foi fundada a Underberg na Rua Conde de Bonfim, no Rio de Janeiro. Com as dificuldades trazidas pela guerra Paul começou a fazer sua própria fórmula de Underberg, criando assim uma outra bebida, homônima do produto alemão, em garrafas de 920ml. Paul logo faleceu, em 1958, deixando uma viúva sem filhos, a austríaca Erna, que desvinculou a filial brasileira da sede alemã.

    Por 47 anos, uma briga judicial disputou a marca Underberg no Brasil, único país onde havia outra bebida com o mesmo nome. Finalmente em 2005, em seu leito de morte, a viúva devolveu a marca a família de seu finado marido. Hoje a Underberg de Rheinberg, Alemanha, voltou a ser única proprietária dos direitos da marca no Brasil e criou a subsidiária “Underberg do Brasil”, com sede no Rio de Janeiro. Agora o Underberg brasileiro, engarrafado em sua garrafa d 920ml, ganhará um novo nome: “Brasilberg”. Enquanto isso o Underberg (o original alemão) deverá chegar ao mercado brasileiro em sua tradicional garrafinha de 20ml no segundo semestre deste ano.

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    Certamente neste momento todos estão se perguntado: que gosto tem o Underberg?  O impacto aromático e gustativo é grande e pode causar estranheza aos neófitos. Sua cor fica entre o âmbar e o marrom, com aromas muito intensos de ervas frescas, onde se nota anis e hortelã, entre muitas outras. O gosto, evidentemente, é amargo, amenizado por uma doçura proveniente apenas do álcool, já que a bebida não leva açúcar. O sabor é intenso e o líquido cumpre muito bem seu papel de digestivo.

    Fiz o teste: comi um lauto jantar nada leve, que começou com uma sopa de rabada e culminou em uma perna de cervo preparada pelo próprio Emil Underberg. A longa refeição foi encerrada com uma das inconfundíveis garrafinhas de Underberg, que teve então terreno fértil par mostrar suas propriedades terapêuticas e sair vitorioso!

    Veja mais em www.marcelocopello.com

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