Por Marcelo Copello
Don Melchor foi o fundador da chilena Concha y Toro, maior vinícola da América Latina e uma das maiores do mundo. O vinho que leva seu nome é a cereja no topo do portfolio da empresa e faz jus em qualidade e prestígio a este status.
Desde sua primeira safra em 1987 o Don Melchor (DM) vêm conquistando fãs em todo o mundo, principalmente no Brasil, onde há diversas confrarias dedicadas a este ícone. Sabedora deste fato a Concha y Toro (CyT) criou a “Collector’s Experience”, uma visita especial de duas horas, aberta à público, na sede da empresa em Pirque (localizada na área metropolitana de Santiago). Estive lá semana passada e participei desta visita, que inclui passeio pelo belíssimo parque, visita à bodega onde amadurece o DM em barricas, visita a Casona do século XIX (mansão da família, com obras de arte e móveis da época) na qual ocorre a degustação guiada das parcelas que compõe o DM e, por fim, visita a sala da coleção com todas as safras desde 1987.
De quebra ainda pude entrevistar o pai da criança, Enrique Tirado, enólogo responsável pelo DM.
Assistam a entrevista abaixo:
FAZENDO UM DON MELCHOR
Todos os anos Enrique Tirado prova cerca de 170 amostras das parcelas de Don Melchor, para definir qual será o corte daquele ano. Normalmente o corte tem um mínimo de 90% de Cabernet Sauvignon de várias parcelas, com um pouco de Cabernet Franc e às vezes (nem sempre) algo de Merlot e/ou Petit Verdot.
Normalmente apenas de 50 a 70% do total de vinho produzido nos vinhedos do DM entra no corte. O que não é usando vai para outros vinhos da empresa.
Tive experiência excepcional fazendo (apenas como brincadeira) um Don Melchor com Enrique Tirado. Provamos 10 parcelas ainda em barricas da safra 2017 e, definimos percentagens e montamos um Don Melhor. As 10 parcelas (7 de Cabernet Sauvignon, 1 de Cabernet Franc, 1 de Merlot e 1 de Petit Verdot) estavam ótimas e cada uma se expressava de uma forma, algumas com mais potência ou complexidade, fruta, finesse etc. Eu provei e escolhi as proporções, orientado por Tirado. O resultado é surpreendente, o conjunto depois de montado é muito melhor que cada uma das partes, é uma explosão no nariz e boca! Fantástico!
VISITA AOS VINHEDOS DE DON MELCHOR
A produção do DM é de cerca de 150 mil garrafas ao ano. Os vinhedos, muitos em pé-franco (pré-filoxéricos) estão em Puente Alto no Vale de Maipo, de não muito longe de Pirque, em 650 metros de altitude, aos pés da Cordilheira dos Andes, com clima mediterrâneo semiárido, moderado pelas montanhas e em um solo completo, pedregoso e aluvial, com argila, limo, carbonato de cálcio, minerais, gerando um vinho complexo. Fiz esta fotos abaixo no local, uma cova escavada especialmente para estudo do subsolo. Vejam que os primeiros 40 cm abaixo do solo é mais argiloso e depois começam as pedras. E percebam que as raízes vão fundo.
De dia o sol é intenso e à noite os ventos frios refrescam as uvas, conservando a acidez natural, proporcionando uma maturação lenta e justa
Os 127 hectares estão formados por 90% Cabernet Sauvignon; 7,1% Cabernet Franc; 1,9% Merlot, e 1% a Petit Verdot. A maior parte dos vinhedos (80%) foi plantada entre 1979 e 1992, com densidade de 4.000 plantas/ha. Os vinhedos mais novos, de 2004 a 2013, são mais densos, com 8.000 plantas/ha, os rendimentos médios são de 4,7 ton/ha. Tive o oportunidade de visitar estes vinhedos e participar (por alguns minutos apenas) da colheita.
Marcelo Copello colhendo uvas do Don Melchor
Um dos momentos mais especiais desta visita foi a prova do Don Melchor 2015, safra mais recente no mercado, que em termos de clima, 2015 foi uma safra clássica, perfeita, com tudo na hora certa. A elaboração do DM segue o seguinte processo: uvas colhidas de forma manual, 100% desengaçadas, seleção de cachoe e de grãos (por controle aumático ótico e depois de forma manual) esmagamento, fermentação alcoólica em inox com cada parcela em uma cubas diferente. A fermentação alcoólica, com leveduras selecionadas, dura 8-10 dias e a maceração mais 18-22 dias, as remontagens são diárias com temperatura controlada entre 24-26oC. O vinho é prensado e separado, 60% em barricas e 40% cubas de inox, conforma a parcela. A malolática é 100% feita. Em julho todas as parcelas são provadas para elaboração do lote final, que vai 100% paras as barricas (cerca de 2 terços novas e 1 terço usadas), nas quais permanece por cerca de 15 meses.
O Don Melchor 2015 é um corte de 92% Cabernet Sauvignon, 7% Cabernet Franc e 1% Petit Verdot.
De cor rubi escura com reflexos violáceos muito vivos. Aroma intenso, complexo e de grande finesse, com notas de frutas vermelhas muito frescas e bem delineadas, minerais de grafite, notas balsâmicas, mandeira nova coadjuvante e bem integrada. Paladar de bom corpo, sem ser pesado, com textura de taninos finíssimos, com equilíbrio, energia, profundidade e integração. Chama à atenção por estar incrivelmente pronto, expressivo e macio, sem perder o potencial de guarda, dado por sua estrutura firme e equilíbrio. Nota 97 pontos.
Don Melchor 2015