Após 600 dias fechado, Cervantes de Copacabana reabre com novos sanduíches
Suculento, o pernil ganhou seção destacada no cardápio, mas a ausência das clássicas saladas frias na guarnição é ponto a ser corrigido
A fachada, a esquina, o salão e a visão geral continuam os mesmos, com ligeiro “retrofit”, mas há algo de novo nos sanduíches que fizeram do Cervantes um ícone da boemia carioca. De portas abertas após 600 dias, período em que sucumbiu à crise pandêmica, o bar e restaurante inaugurado em 1955 renasce pelas mãos de Antônio Rodrigues, o empresário e fenômeno cearense dono da rede Belmonte, que também salvou da falência em tempos recentes o Nova Capela, na Lapa, e o Amarelinho, na Cinelândia.
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As diversas mesas que agora ocupam a calçada da entrada principal do restaurante, na Rua Prado Júnior, aumentaram a capacidade da casa trazendo na informalidade um bem-vindo clima de boteco, estratégia típica dos novos tempos num estabelecimento de histórica “clausura” no salão.
Na porta da Rua Barata Ribeiro, marcada através das madrugadas como parada obrigatória para o combo chope-sanduíche no balcão, a vitrine onde apoiam-se os cotovelos, que outrora abrigava os frios para os robustos sanduíches, e as saladas que tradicionalmente os acompanhavam, agora está repleta das famosas empadas abertas que nasceram no Belmonte, em sabores como siri e carne seca com catupiry (ambas a R$ 23,00).
Para os saudosistas incuráveis em busca da dentada perdida, incluindo o mesmo corte dos frios empilhados em recheio alto, e do pão canoa macio, semelhante ao francês e marcado na chapa ondulada, o aviso é importante: o novo sanduíche do Cervantes é (bem) diferente. A boa notícia é que ele é também muito bom, e tem tudo para construir com êxito uma nova história.
A estrela é o pernil, a carne que melhor representa os botecos cariocas tradicionais, com seção destacada para ele no cardápio e preparo a caráter. As lascas do assado longo são mergulhadas no molho abundante da assadeira, e vale se cercar de guardanapos porque o bicho está suculento, agora em pão mais fofo, um ciabatta redondo e de boa consistência, feito pela premiada padaria João Padeiro. A versão simples sai a R$ 27,00.
O abacaxi cozido em calda de açúcar é a mais fiel lembrança gustativa da casa original, que ganhou a possível companhia de um queijo de ovelha cremoso e de personalidade, trazendo certa picância ao conjunto. O sanduíche de pernil com abacaxi e queijo de ovelha (R$ 52,00) funciona e tem tudo para ganhar fama positiva, se uma falha considerável for corrigida o quanto antes.
A nota de pesar é a ausência no cardápio das saladas russa, de maionese e o salpicão que são partes inegociáveis do DNA do Cervantes original, servidos anteriormente como opção em pratinhos o lado dos sanduíches.
Enfim, se a ideia é comer algo muito parecido, ou quase igual ao combinado que marcou as noites cariocas em décadas passadas, o freguês deve se dirigir ao Parada de Copa, estabelecimento mais adiante na Barata Ribeiro (número 450), que herdou parte da equipe do antigo Cervantes e busca reproduzir em “fac-símile” as receitas originais.
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Outras novidades dentro dos pães do Cervantes 2022 ficam por conta do filé com queijo, abacaxi e cebola caramelizada (R$ 46,00), e o presunto tipo parma com queijo brie, rúcula e cebola caramelizada (R$ 49,00). O cardápio de petiscos, pratos e executivos para o almoço é vasto, e vai da moela com jiló à milanesa (R$ 39,00) ao polvo com arroz de brócolis (R$ 179,00, para duas pessoas).
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O chope da Brahma vale R$ 10,00 (280 mililitros), e as long necks de Beck’s e Stella Artois saem por R$ 12,00 (330 mililitros). Caipifrutas de jabuticaba com morango, ou tangerina com gengibre e hortelã saem a R$ 24,00 (cachaça Velho Barreiro), R$ 29,00 (vodka nacional), R$ 30,00 (cachaça Salinas) ou R$ 35,00 (vodka importada).
Vida longa ao Cervantes, que agora forma um trio, no estilo parede-com-parede, com o Bar do David e o Galeto Sat’s, e nenhum deles fecha antes das 4h da madrugada. É o Rio recuperando a saideira.