O Rio de Janeiro, mais que uma cidade, é um estilo de vida. Os turistas que entram no avião com o bronzeado além do ponto vestindo a camiseta “Eu❤ Rio” não querem dizer só que vão sentir falta das praias, da natureza, das paisagens, mas do clima, do tempo que passa mais devagar, da simpatia, das pessoas andando pelo calçadão fitando o mar deixando claro que aquilo é a coisa mais importante naquele momento – e é. O Rio transcende.
As altas temperaturas (mesmo quando altas demais) são um convite a explorar a cidade, a sair de casa, do hotel, e passar mais tempo na rua, vislumbrando os morros, as praias, os banhistas. Só pode ser premeditado: alguém que controla os termômetros da cidade faz de propósito pela beleza de ver todo mundo tomar as ruas.
Porque o Rio é uma cidade para ser desbravada, degustada. As pessoas apinhadas nas mesas dos restaurantes e bares são um indício desse espírito carioca. Há sempre mesas ao ar livre, uns petiscos para beliscar, uma bebida gelada no copo. A cena gastronômica, no Rio, é casual, sem firulas, fresca (o mar está ali, afinal) e, claro, refrescante. É preciso uma comida que sacia sem pesar, como as paisagens ali de fora. Não à toa os peixes e frutos do mar são uma grande influência, claro.
Mas não apenas pela oferta que chega à Baía da Guanabara, mas também por nossas raízes portuguesas, que estabeleceram-se aqui quando a cidade ainda era a capital do Brasil. A despensa deles também era tão vasta em produtos do mar como a nossa, e eles nos deixaram algumas excelentes receitas de herança (ah, os bacalhaus!).
Por uma associação climática, os vinhos produzidos na região dos Vinhos Verdes, ao norte de Portugal, encontraram na cidade taças sedentas por suas bebidas frescas, leves e versáteis. É o que pedem as altas temperaturas, afinal. “Acho que os Vinhos Verdes são a cara do Rio, perfeitos para o nosso clima e para acompanhar os frutos do mar da costa fluminense”, afirma Cristiana Beltrão, sócia da rede carioca de restaurantes Bazzar (Rua Barão da Torre, 538 – Ipanema). “Amo o sabor ‘crespo’ e mineral desses vinhos”, diz ela.
Toda a gastronomia brasileira, aliás, rica em tantos sabores e diversidade, harmoniza bem com os vinhos da região justamente por esse caráter democrático que eles trazem: aromas e sabores intensos, como é a nossa culinária – de Norte a Sul. No Bazzar, restaurante pioneiro do grupo em Ipanema, os pratos prezam pelo frescor dos ingredientes – por isso, o trabalho é feito com fornecedores locais, para garantir que eles cheguem à mesa em seu melhor estado.
Cristiana indica um prato recém-chegado no cardápio, um Beijupirá de Angra, com farofa e pirão de farinha de Cruzeiro do Sul, maxixe e brotos orgânicos, para harmonizar com o Alvarinho do Palácio da Brejoeira. “O bacana do Vinho Verde é a sua explosão aromática: esse tem pêssegos, grama e o toque mineral. Eu adoro”, diz.
Conheça outros restaurantes onde é possível comer bem no Rio de Janeiro – com uma boa taça de Vinho Verde, é claro.
O restaurante do chef francês radicado no Brasil Claude Troisgros é uam referência na cidade e ganhou novo apoio quando o filho dele, o chef Thomas Troisgros, resolveu fazer parte da cozinha e, com o pai, tocar o menu a quatro mãos. Aqui, a cozinha francesa dá as regras, mas os ingredientes brasileiríssimos encontram seu lugar – uma marca do Troisgros, um dos primeiros chefs internacionais a olhar com atenção os nossos produtos.
Para pedir com um Vinho Verde: Vieiras com carpaccio de palmito, doce de leite e farofa de pupunha.
O vinho: Quinta de Azevedo
Onde: R. Custódio Serrão, 62 – Lagoa / Tel.: (21) 2537-8582
Um dos maiores redutos da comida lusitana na cidade, o Adegão fica em São Cristovão e, desde 1964, serve clássicos da culinária da terrinha, das tripas à moda do Porto ao Bacalhau a Zé do Pipo. Há também alheira com ovos estralados e batatas fritas e um leitãozinho assado. O sommelier, Francisco Edcarlos, já ganhou como melhor sommelier de vinhos portugueses, em Portugal. Um craque.
Para pedir com um Vinho Verde: o caldoso Arroz de polvo
O vinho: Palácio da Brejoeira / Regueiro Reserva / Toucas / Senhoria / Casal Garcia
Onde: Campo de São Cristóvão, 212 – São Cristóvão / Tel.: (21) 2580-7288
O restaurante do chef Rafa Costa e Silva é ponto obrigatório para quem visita a cidade – mas é bom se programar antes, a fila de reserva passa de um mês. Os pratos unem a criatividade do chef com técnicas bem apuradas – que ele aprimorou durante seus anos de cozinha fora do país, especialmente no basco Mugaritz. Rafa faz uma cozinha de produtos: tanto que muitos dos vegetais servidos são de produção própria. Tudo para garantir maior frescor e sabor do que chega à mesa.
Para pedir com um Vinho Verde: Cubos de tubérculos (batata, cenoura roxa, mandioquinha e cará) com brotos.
O vinho: Aphros Loureiro 2013
Onde: R.Conde de Irajá, 191 – Botafogo / Tel.: (21) 3449 1834